domingo, 13 de dezembro de 2009

Violência: apenas uma palavra

Não te julgues um ser tão frágil, pois tens o instrumento mais violento da humanidade.
Se soubesses o poder incomensurável que há numa palavra verbalizada, possivelmente entenderia que a palavra “cuidado” fundamenta grandes traumas e frustrações.
Fonemas, radicais, sufixos, prefixos, derivados, são algumas partes do seu complexo corpo, mas o que seria de nós se por de trás de uma simples estrutura morfológica não houvesse as mais belas e singelas intenções?
De qualquer sorte, a palavra “beleza” designa olhares de admiração, compenetração, que se evaporam quando da mesma boca saem palavras cuspidas, carregadas de ódio, raiva, nojo, desprezo... Triste fim da palavra beleza...
É a palavra que fundamenta a nossa existência; ela está presente em todas as relações humanas, mas será que pensamos sobre a sua influência?
Discussões entre pais e filhos, amores e amantes, de épocas diferentes, de corruptos permanentes, enfim, o tempo passa e a palavra continua sendo o instrumento mais poderoso da cultura antropológica.
A verdade é que você não percebe o quanto é violento, diz que é frágil, mas a contradição faz parte do seu discurso... A contradição explicita a existência humana... Realidades das palavras.
É uma arma tão sutil que pode ser levada pelos ventos; as palavras têm força, simbologia, é o corpo formado das nossas representações.
Muitas bocas dizem que uma palavra dada é como uma flecha atirada: não tem volta. Quantas vezes essas infinitas flechas marcaram ou até mataram a vida de simples mortais?
Realmente, possa ser que não tenha volta mesmo...
As armas de fogo caracterizam um dos mais perniciosos atos de violência da contemporaneidade, mas a palavra consegue ser ainda mais forte. Ela não precisa de pólvora e nem de disparo, ela não machuca e depois apaga, ela paira no ar, contamina os mais infindos corpos e continua existindo, assassinando a carne e principalmente a alma.
Ah, violentas palavras! Por que existe nas diversas máscaras? Por que consegues andar tão facilmente nos extremos da vida e da morte? Será sua existência a causa das nossas tragédias?
Se não sou um ser frágil e sim o mais violento, desculpe-me pela indelicadeza de não saber transmitir a sua beleza, de fazer com que você, admirável palavra, seja tão esmagadora.
Talvez um dia, quando soubermos admirar a palavra “beleza”, passemos a entender como esse corpo “palavra”, formado de três sílabas, fundamenta nossa existência, e quem sabe também o da violência.
São esses os resultados do aprender a falar, dominar os fonemas e do violentar com os nossos discursos. São coisas da vida, da boca e da língua... Mas, enfim, alguma palavra?

Eu estou aqui para viver e ver no que vai dar Essa rotina de sonhos e apagamentos De colocar o medo antes de tudo Antes de resp...