Você é mais um de bilhões de
pessoas que existem. Tá, isso eu sei... Mas não somos bilhões de cabeças
iguais, que pensam e agem da mesma forma.
Talvez seja essa grande questão
que justifica a maneira como as relações humanas estão dispostas atualmente. As
pessoas estão acostumadas a olharem o mundo apenas com o seu espelho, definindo
o outro de acordo com as suas expectativas e desejos.
Mas expectativas não definem
pessoas, definem a sua dificuldade em lidar com suas próprias questões, com as
suas faltas e, naturalmente, frustrações.
É difícil conviver com o que as
pessoas “acham” sobre nós, porque isso acarreta o perigo das percepções
cristalizadas. É insano pensar que você não o que de fato é, mas aquilo que as
pessoas “acham” que você seja. Obviamente, isso não é nenhuma novidade,
acontece nas diversas relações, mas até que ponto isso importa?
Pois bem, isso muito me importa!
Estamos na era do consumo
exacerbado das coisas. Tudo tem valor, pode ser comprado, tem preço, barganha,
leilão, disputa. Difícil é aceitar que tudo passa a ser objeto, inclusive nós. As
pessoas estão se acostumando com o trágico comportamento de estarem desenfreadamente
disponíveis a todo o custo, isto é, sem custo nenhum. Valorizar-se não está na
moda, mas ter um valor no mercado, sim.
Se você gosta de alguém isso é
garantia de amor para a vida toda. Se não tem afinidade com outra é a pior do
mundo, se você aceita uma solicitação de amizade é resultado de um pacto sexual
sem fim, como assim? Até que ponto seremos vistos dessa forma?
Sei que cada um tem as suas
escolhas, isso é massa, por isso tenho as minhas, entretanto, não sou objeto. As pessoas não são encontradas em prateleiras,
nem muito menos à venda em campanhas promocionais. Eu compro roupa, remédio,
perfume, comida, bebida, tênis e um monte de outras coisas, mas não compro
pessoas. Sentimentos, valores, princípios seguem a lógica interna, do sujeito,
portanto, uma lógica que não é medida [e nem deve] seguir a lógica dos prazeres
mundanos.
Essa permissão de se tornar o que
os outros “acham” é de uma perversão sem igual. É um direito que cabe a cada
um, eu sei, mas aprisiona. Não posso me violentar a ponto de me imaginar uma
coisa. A chamada coisificação é um processo violento, avassalador que
deslegitima a capacidade e direito de existir do outro.
O que falta, sinceramente, é a
vontade de sustentar os sentimentos com mais responsabilidade. Que seja sexo
apenas, ou um abraço, mas que seja consciente e autêntico. Deixar-se levar pelo
olhar alheio me faz perder a dimensão de estar no mundo, de manter os meus
posicionamentos e construir minha história.
E acredito que falta isso hoje em
dia. Falta o encantamento das relações [qualquer que seja!], a leveza de
escutar uma negativa sem agressividade, de ser abraçado e beijado sem medo de
sentimentos contrários, e viver a realidade, o que está posto, de fato.
Sou um entre bilhões, eu sei, mas
continuo sendo Eu.