segunda-feira, 3 de outubro de 2016


Você é mais um de bilhões de pessoas que existem. Tá, isso eu sei... Mas não somos bilhões de cabeças iguais, que pensam e agem da mesma forma.

Talvez seja essa grande questão que justifica a maneira como as relações humanas estão dispostas atualmente. As pessoas estão acostumadas a olharem o mundo apenas com o seu espelho, definindo o outro de acordo com as suas expectativas e desejos.

Mas expectativas não definem pessoas, definem a sua dificuldade em lidar com suas próprias questões, com as suas faltas e, naturalmente, frustrações.

É difícil conviver com o que as pessoas “acham” sobre nós, porque isso acarreta o perigo das percepções cristalizadas. É insano pensar que você não o que de fato é, mas aquilo que as pessoas “acham” que você seja. Obviamente, isso não é nenhuma novidade, acontece nas diversas relações, mas até que ponto isso importa?

Pois bem, isso muito me importa!

Estamos na era do consumo exacerbado das coisas. Tudo tem valor, pode ser comprado, tem preço, barganha, leilão, disputa. Difícil é aceitar que tudo passa a ser objeto, inclusive nós. As pessoas estão se acostumando com o trágico comportamento de estarem desenfreadamente disponíveis a todo o custo, isto é, sem custo nenhum. Valorizar-se não está na moda, mas ter um valor no mercado, sim.
Se você gosta de alguém isso é garantia de amor para a vida toda. Se não tem afinidade com outra é a pior do mundo, se você aceita uma solicitação de amizade é resultado de um pacto sexual sem fim, como assim? Até que ponto seremos vistos dessa forma?

Sei que cada um tem as suas escolhas, isso é massa, por isso tenho as minhas, entretanto, não sou objeto.  As pessoas não são encontradas em prateleiras, nem muito menos à venda em campanhas promocionais. Eu compro roupa, remédio, perfume, comida, bebida, tênis e um monte de outras coisas, mas não compro pessoas. Sentimentos, valores, princípios seguem a lógica interna, do sujeito, portanto, uma lógica que não é medida [e nem deve] seguir a lógica dos prazeres mundanos.

Essa permissão de se tornar o que os outros “acham” é de uma perversão sem igual. É um direito que cabe a cada um, eu sei, mas aprisiona. Não posso me violentar a ponto de me imaginar uma coisa. A chamada coisificação é um processo violento, avassalador que deslegitima a capacidade e direito de existir do outro.

O que falta, sinceramente, é a vontade de sustentar os sentimentos com mais responsabilidade. Que seja sexo apenas, ou um abraço, mas que seja consciente e autêntico. Deixar-se levar pelo olhar alheio me faz perder a dimensão de estar no mundo, de manter os meus posicionamentos e construir minha história.

E acredito que falta isso hoje em dia. Falta o encantamento das relações [qualquer que seja!], a leveza de escutar uma negativa sem agressividade, de ser abraçado e beijado sem medo de sentimentos contrários, e viver a realidade, o que está posto, de fato.


Sou um entre bilhões, eu sei, mas continuo sendo Eu.

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