segunda-feira, 30 de março de 2009

Fado

Outro dia estava a pensar sobre os sentimentos. Foi um momento muito confortável, porque acredito intensamente no poder das palavras. Sim! Sentimentos são palavras carregadas de significados compartilhados por uma sociedade, mas que são sentidos de forma peculiar, idiossincrática. A maneira como você ama, como você odeia somente você pode sentir, é uma maneira de representação daquilo que foi construído, mas que foi filtrado pelos diversos sujeitos como uma unidade simbólica do Eu, o qual ele somente é sendo, sentindo. A consciência humana que veio para materializar um precipício entre as outras espécies nos concede, pela plasticidade neural, uma vasta possibilidade de estar consciente, muitas vezes, dos fenômenos e dinamicidade que constitui as relações existentes entre os seres humanos. Por outro lado as emoções básicas, apresentadas como substrato biológico-evolutivo introduz a percepção de que elas são imprescindíveis para a sobrevivência da espécie. Alguns especialistas explicitam emoções que se desenvolvem a partir desse contato com o outro, pelo processo de socialização, que são de fundamental importância para a manutenção das relações existentes. Mas, afinal de contas, como entender os sentimentos?
De certo é uma complexidade, pois são várias as visões a cerca de um fenômeno interno que transcende qualquer capacidade de interpretação única. No entanto, procurei algumas alternativas que pudessem suprir uma falta que em mim, até então, causava o primeiro indício de desconforto. Nesse percurso procurei um sentimento que representasse umas das mais eloqüentes alucinações existentes entre os seres humanos e o sistema nesse mundo dito como contemporâneo. Não tive dificuldade de encontrá-lo até porque, acredito eu, todos nós somos afetados por esse sentimento, o SENTIMENTO DE LIBERDADE. Para melhor abstrair essa caminhada, entendamos o conceito de liberdade no Aurélio:

do Lat. libertate


s. f.,
faculdade de uma pessoa poder dispor de si, fazendo ou deixando de fazer por seu livre arbítrio qualquer coisa;

gozo dos direitos do homem livre;

independência;

autonomia;

permissão;

ousadia;

(no pl. ) regalias;

(no pl. ) privilégios;

(no pl. ) imunidades.
— de consciência: direito de emitir opiniões religiosas e políticas que se julguem verdadeiras;

— de imprensa: direito concedido à publicação de algo sem necessidade de qualquer autorização ou censura prévia, mas sujeito à lei, em caso de abuso;

— individual: garantia que qualquer cidadão possui de não ser impedido de exercer e usufruir dos seus direitos, exceto em casos previstos por lei.


Será que realmente existe esse sentimento entre os homens? Ou será que foi uma estratégia utilizada pelo sistema?
Partindo do princípio de que a liberdade é uma ilusão, posso conceber o sentimento como partícula indissociável de um Eu que emerge a partir dos conflitos como também da sensação de bem estar. Talvez os sentimentos tenham a ver com a alternância de papéis sociais entre os indivíduos, essa oscilação que se caracteriza como uma das principais chaves para a compreensão dos sistemas humanos. O sentimento pode ser tudo que se mostra interno ou externamente pelas várias posturas existentes, com o surgimento dos fatos acometidos por outros processos que é do homem, mas que é histórico. Essa liberdade que é inalcançável por si só e impraticável nos âmbitos relacionais nos faz construir alusões que se chocam pelo simples desejo de impor um sentimento que é seu, mas não do Outro, é um subjugamento. E nesse refletir me deparei com umas das mais inescrupulosas indagações que se faz persistir nas posturas, representações e simbolizações, buscando uma resposta, mas que é minha somente minha... O sentimento é meu, a prisão quem faz sou eu, o amor é canção paulatina, para que reverenciar o sentimento?

quarta-feira, 18 de março de 2009

Permuta


Permissão que me chegou tão intensamente sem possibilidade de pensar em mais de uma resposta. De certo eu disse sim, mas sem saber o que isso me remotava... Até porque aquela maneira pela qual existiu, de forma tão imediata, fez surgir uma espécie de contentamento que para mim floresceu naquele instante padecido. Ordenado a fazer alguma coisa postulada por um Outro inexistente, perguntei-me porque assim aceitei essa única possibilidade. Talvez pudesse resistir a esse imediato, pensando melhor, buscando outros meios, construindo outros mecanismos... No desenvolvimento dessa ordem minha ânsia acabava por me fazer desistir dessa tarefa, até então sem sentido, sem recompensa, não há porque persistir numa pedra sem abalos, sem rachaduras. Por mais que minha simples ignorância me propusesse a acabar de vez com aquilo, a intuição de que alguma existência desconhecida fosse real me motivava. Essa única possibilidade tinha que construir no Eu novas formas de apreciar pormenores. As satisfações do Outro eram visíveis, mas me agarrava na esperança de que minha percepção abstraísse tudo que se tornava irreal. Por fim havia percebido que ninguém me disse nada, era uma única possibilidade criada pela minha abstração. Talvez fosse à inaceitável angústia de compreender que nós não nos encontramos em outro lugar real, apenas no nosso ideal imaginário. As relações nos mantém, ilusoriamente, constantes, mas é a existência do Outro que, por alguma dádiva, dar significância a minha existência.

Eu estou aqui para viver e ver no que vai dar Essa rotina de sonhos e apagamentos De colocar o medo antes de tudo Antes de resp...