domingo, 7 de agosto de 2011
Cê
Cê que me dava tantos mares para que pudesse navegar sobre as estrelas não me proibiu de cair no mundo. Afoguei-me nessas realidades e não consegui chamar por teu nome. Sabias que seria assim, não vi os teus olhos para que pudesse me avistar, muito menos a vontade de me salvar.
Cê que me dizia tantos poemas e declarações de amor, citava Drummond na mais perfeita intenção, me fascinava com as mais verdadeiras loucuras de Lispector, não permitiu que chegasse a um lugar comum ao nosso mundo. Uma loucura talvez tardia para me ludibriar com tantos discursos armados e calcados como areias ao vento.
Cê que me mostrava tantos segredos, mistérios e seduções se evaporou como uma gota d´agua. Tentava buscar um sentido para o seu desaparecer, contando nos dedos a falta que Cê me fazia, mas não adiantava. Estava perdido em mim mesmo, preso em outros desejos, angustiado em outras intenções, sem nada a fazer.
Não sei o que Cê fez em mim ou fez de mim, não sei o que Drummond fez quando caiu na solidão. Não sei o que Lispector fez na hora da estrela, mas, para que saber? Foram ventos e ventanias, mares e correntezas, verdades e impurezas, outras e outras coisas. Coisas promessas, bestas, intolerantes, latentes, emergentes, mas grandes coisas.
Cê que me dizia dos perigos mundanos, me alertava sobre as armadilhas e tentações do amor, não me instrumentalizou para as possibilidades de dor. Dor essa que fere, que sangra, que dói, mas que passa. Na verdade tudo muda, inclusive a passagem da dor. Não existe concretismo para sentimentos, muito menos para desejos. Perdi com Cê o que o mundo perde todos os dias, amor, admiração, verdade... Aliás, não perdi, me escondi em tudo isso.
Cê foi uma farsa, identidade impostora que se produziu com as falcatruas do mundo. Misturou-se com os desejos ambíguos e se transformou nas mazelas do infinito. Cê não está mais presente, se foi com as estrelas que me afundaram no mar. Águas essas que correm no meu corpo, uma gota repentina de sentimentos humanos, que não se funda no oceano, mas em nós mesmos. Oceanos vermelhos que conhecem nossos esconderijos, que dão brilho as nossas estrelas e que Cê sabes muito bem que não foi embora... sempre esteve no mesmo lugar.
Cê não existe, mas não se foi. Apenas matou a minha realidade para uma realidade mais próxima. Cê é uma confusão de mim mesmo com o mundo... Cê é uma coisa que existe apenas...
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2 comentários:
Al, você realmente deveria publicar um livro. Quanto talento não mais adormecido!
Sou sua fã.
Carlinha.
"Strani amori fragili
Prigionieri, liberi
Strani amori mettono nei guai
Ma, in realtà, siamo noi..."
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